Donos de búzios encantados e feiticeiros de cartazes de poste, aposentem-se!
Nada mais deprimente que a situação do comércio amoroso nos dias de hoje.
Enamorados e transeuntes do limbo da solteirice entraram de vez na onda high-tech e não precisam mais recorrer aos astros ou às cartas para prever as marés do destino e sorrateiramente tentar sua manipulação.
Nenhum poder esotérico é necessário para saber que ao adentrar uma das redes virtuais, que hoje dominam nossas vidas reais, o que mais será visto serão banners propagandeando a solidão ou a beleza do lindo amor atual vivido.
Os chamegos e as frases de desespero saltam tanto aos olhos que é possível acompanhar a novela da vida de cada um sem nem ter que ouvir o Shimbalaiê, ou qualquer outra groselha, como trilha musical.
Lá estão as frases tristes, as citações famosas e o tal do status de relacionamento a fazer bem o seu papel, flertando sempre com o rumo dos futuros capítulos...
"É só jogar a isca e correr para o abraço!"
Hoje, carência se cura com uma frase lamentando a solidão ou a rejeição; basta esperar alguns instantes para descobrir quem pode “curtir” massagear o seu ego virtual.
Já reafirmar o quanto os apelidos trocados com seu par são fofos cumpre a função de reafirmar a cada clique o quão duradouro será seu atual enrosco.
Nada fora do comum em uma época em que nos dividimos entre avatares do que somos e do que gostaríamos de ser, impossível não expor um quinhão considerável da vida nas palavras digitadas, mas o outdoor do bem querer anda passando do ponto na mão de alguns.
Cigana esperta sabe que isso é apenas reflexo da diferença principal entre os marujos desse mundo; há os que preferem navegar e os que não abrem mão de apenas envernizar o barco.
Simplicidade, barquinho nos trinques e tranquilo,
bonança para enfrentar o mangue ou chegar ao rio Nilo.