sexta-feira, 14 de maio de 2010

No fim é tudo sussurro - (Parte 1)



Ser crédulo demais é um grande problema, o grande Jéca sabia disso mais que ninguém.

Em um dia em que uma nova decepção lhe batia à porta, se dedicou a explicar o motivo do novo desapontamento deixando a pouca tristeza de lado e vendo tudo com olhos científicos.

Era viva a confusão de não entender o jogo dos humanos, em se dizer o que não deveria ser dito ou o que jamais poderia ser considerado como verdade.

Dos tempos de criança lembrava que não lhe importavam os brinquedos emprestados e que era forte seu choro no primeiro ano de pré-escola, onde só a possibilidade de falar com a mãe, fielmente posicionada por trás do muro, lhe aconchegava.

Aprendeu a partir daí que as devoluções de confiança não eram tão recíprocas e quase sempre respingavam no (não) retorno de seus brinquedos. Do mesmo modo também compreendeu que o artifício da mãe carinhosa não era levado assim tão ao pé da letra e que a única resposta que sempre recebera era a do seu próprio eco rebatido em paredes ásperas.

Destes tempos infantis ainda sentia viva a confusão de não entender o jogo dos humanos em se dizer o que não deveria ser dito ou profanar aquilo que jamais poderia ser considerado como verdade.

Ali era estrangeiro e as decepções sempre recaíam sobre os outros.

Em resposta às lições aprendidas, como um típico adolescente quase-problema encontrou na rebeldia a ferramenta perfeita para contestar tudo aquilo que lhe enojava no mundo ainda não compreendido.

Desligando o botão da compaixão responsável, viu o quanto foram boas as experiências lisérgicas em busca da experimentação sem rodeios daquilo que sua juventude poderia lhe oferecer.

Não pôde evitar. O esquecido vinil dos três acordes tocava novamente e lhe brindava como trilha sonora.

Tempo bom onde o egoísmo era xiita e lhe permitia moldar seus pensamentos sem maiores conseqüências. A única decepção possível era consigo mesmo e com isso lidava muito bem.

Mas assim como o disco preferido chegava ao fim, aqueles bons tempos seguiriam o mesmo caminho e a música fatalmente entrou na mudança.

Jéca lembrou que aos poucos os pés já não estavam enfiados na jaca e que lentamente buscavam abrigo em cima do muro. Nessa parte da história preferiu o papel de observador ao risco de errar o tom das novas canções propostas. Ser crédulo demais no mundo ainda alienígena continuava a ser arriscado.

Os anos que sucederam essa adaptação ao enfrentamento mais político do mundo foram os mais turbulentos e atingiam pavorosamente suas convicções.

O dia em que decidiu se deixar levar veio à tona claramente...

Um comentário:

Unknown disse...

Mano eu ja te disse que sou fã de suas escritas né?
Então fica por aqui as sincveras vibes positivas junto aos meus parabens meu truta!

O vinil é do sublime que eu to ligado uehuee zuera

nois