sexta-feira, 21 de maio de 2010

Sensível etimologia


Leia com atenção:

sensibilidade
s. f.
1. Faculdade de sentir.
2. Irritabilidade.
3. Fig. Sentimento de humanidade, de compaixão.
4. Susceptibilidade!, disposição para ofender-se ou melindrar-se.
5. Fís. Grande precisão ou delicadeza em certos instrumentos, a qual os torna aptos para evidenciarem a menor alteração ou erro.


palavra
s. f.
1. Som articulado com uma significação.
2. Vocábulo.
3. Termo.
4. Permissão de falar.
5. Promessa verbal.
6. Afirmação.
7. Doutrina.
8. Fala.


Quem diz, diz mesmo?

Adoradores das duas escolas acima não andam se entendendo muito bem...

Há quem escolha “termo” ao invés de “susceptibilidade” , talvez por perceber que preferência pela forma logo aponta que a segunda opção não é tão formosa quanto os já tradicionais vocábulos bem cheirosos e queridos do grande e, nem tanto assim, respeitável público.

Trupe que, assim como em um picadeiro, faz de cada noite um espetáculo que lhe possa soar divertido tendo por base aquilo que desejam seus fiéis espectadores, e para quem sabe dessa maneira dormir com o eco dos aplausos necessários para se sentir mais especial.

Assim como no exemplo mambembe, o que muitos simplesmente não percebem é que os termos e as afirmações quase nunca estão matriculados na faculdade de sentir.

Palavras são só palavras e tal informação já deveria vir no manual do berço, seja no de ouro que reluz ou o comprado no crediário do suor.

Confesso que não foi fácil achar essa informação no Google mundano ou no SAC da vida, mas que a flor da pele me ensinou o suficiente.

Sendo assim, em tempos recentes cheguei a ponderar a chata possibilidade de preservar as palavras enjaulando a sensibilidade como o leão a levar chibatadas no meio do palco, mas o fato é que transbordar tudo que não couber mais na pequena lona dos dias é o enfrentamento de quem quer ir além de algumas chatas apresentações.

Talvez a irritabilidade por vezes ruja forte demais e forneça aquele espacinho que os idiotas necessitam para lhe enxergarem como um dos seus e bradarem isso aos quatro ventos.


Só que a diferença está na etimologia do caráter meu caro falador!


Quem fala por falar esperando flores causadas pelo medo de não ser especial não consegue enxergar a diferença entre se forjar um sentimento com verbetes escolhidos a dedo e de se dizer aquilo que se sente.

Independente do arrependimento posterior ou da falta de tato característica, quem leva essa doutrina do transbordo como filosofia de vida não vê motivos para se arrepender e deixa apenas que tudo siga naturalmente.

A vantagem nisso tudo é não ter de conviver com metáforas repetidas ou clichês que possam tornar a vida mais romântica, vendendo tristeza aos outros para comprar alegria.

Assim fica fácil de se enganar, é só acreditar na força da junção das letras como mantra de proteção aos sentimentos e... tchanam!!!

E quem não conhece alguém que deseja explicação para tudo e que usa tal artifício para construir seu castelo de negações sempre intransponível aos cegos – de raiva, amor, zêlo... – do sentir?

Ofender e melindrar pode ser a parte ruim de mostrar-se tão transparente aos julgamentos de quem lhe deseja como simples número do Circo do Dizer, mas posso afirmar que isso também lhe tornará apto para evidenciar a menor alteração ou erro no seu caminho.

Sei que na sociedade super saudável e translúcida em que vivemos não há muito espaço para esse tipo de comportamento, mais ainda assim prefiro ser eu o espectador da atuação dos meus sentimentos a ter que confiar em palavras que servem como maquiagem ou como pão que sustenta o saco vazio que não para em pé.

Nos dias de hoje tem razão quem primeiro diz sofrer ou quem corre para espalhar “a verdade” dos fatos, mas esse blá blá blá sincero só convence quem quer ser convencido em um ciclo de autocompaixão que não faço questão nenhuma de provar.

Aposto com o mais fervoroso dos incrédulos que muitas vezes as palavras lhe abandonaram e não levaram você a lugar algum e que o sentir jamais fez o mesmo.

Em textos ou em palavras ainda existem pessoas que sutilmente podem lhe oferecer correção ortográfica de um modo sutil e que evite vergonhas futuras , já a vida real não admite esperneios mimados em palavras repetidas ou promessas verbais vazias.


Quem já lhe fez se trancar como criança em um W.C qualquer por medo de enfrentá-lo?
Uma nova palavra ou um sentimento sufocado ?

Um comentário:

Anônimo disse...

Não precisava vir até aqui pra dizer mais uma vez que gostei do seu texto. Mas, como você insiste em querer um recado grego, fiz esse favor...rs
Texto liso, palavras bem colocadas, temas interessantes.

Continue escrevendo assim que receberá elogios cada vez mais...