quarta-feira, 10 de março de 2010

Flor, e o Joca?





Era necessário rendição para mantê-la ali. Ou se aprendia a lição ou tudo poderia ser como ela quisesse.



Em crise de identidade e sem saber ao certo o que fazer com a preciosidade que tinha em mãos nosso Joaquim passou a perceber coisas que não se encaixavam no perímetro oferecido pelo belo vaso que abrigava a personagem cheirosa da história.

A flor mudava suas formas, deixando cada vez mais sua delicadeza de caráter deficiente menos real.

Aos poucos as exigências foram tomando conta de seu crescer e com isso deixavam insustentável a leveza do contato inicial entre os dois.

A beleza e o aroma ainda estavam lá, mas se sentir na obrigação de ser o único responsável por algo que nunca lhe foi claro rendia ao dono da flor muito mais preocupações que prazer.

Não existia mais compreensão entre o casal formado.

Afirmação confirmada com o tamanho cada vez maior dos vasos ocupados.
O que antes era segurança e proximidade havia se fantasiado de liberdade em canteiros cada vez maiores e libertos.

Esperta como era de sua espécie, a rara donzela não perdoava fraquezas daquele que lhe regava. Impunha horários, regras e maneiras em todas as ocasiões que tivesse oportunidade de fazê-lo, chegava a murchar se o zelo oferecido não fosse ao encontro de seu bel-prazer.

Em certa oportunidade, por ordem de seu capricho, abandonou seu canteiro com a ironia de quem sustenta o clamor de inocência em seus atos, viajando milhas para que o incrédulo Joca percebesse que poderia sair dali a hora que quisesse.


O sorriso estampado na face e as ofensas merecidas no bolso não contavam com a correção que o rápido resgate representava.

Era necessário rendição para mantê-la ali. Ou se aprendia a lição ou tudo poderia ser como ela quisesse.

Não era mais a flor a ser regada, inverteram-se os papéis sem aviso prévio.

Estava ali era o homem a ser talhado. Sem perceber necessitava de cada vez mais demonstrações da autenticidade de tudo, como fosse o soro de sua forçada fotossíntese.

Na ilha das ideologias apenas teimava não perceber que a valentia de aceitar condições não mais competia com sua recorrente falha em calcular os riscos.

Estava sendo engolido pelas certezas que negou e cada vez mais infectado pelo aroma subvertido à enxofre que o belo exemplar agora lhe oferecia...





“Nem tudo que é belo cheira bem
O belo é só o belo,
O cheiro sempre transborda de alguém.”

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