sexta-feira, 5 de março de 2010

Um lero com Angenor


Salve Xerém! Salve Itaquera! Salve Moema?! Santo Angenor do céu, por que tudo não é feito o subúrbio?!

Já andei por ruas floridas em áreas afastadas e em privilegiados planaltos paulistas, assim consigo concluir que algo de errado se encontra na alma dos habitantes do topo dessa pirâmide tão torta.

O papo não é nem o dinheiro, isso vem de berços lapidados bem antes do nascimento de qualquer Zé Mané e considerá-lo como pecado original é tão idiota quanto considerá-lo como vantagem.


Mas olha lá, não é que um cifrãozinho a mais muda a cabeça mole de um caboclo?!


E como no Brasilzão velho de guerra tudo é caricatura, não posso negar meus rabiscos aqui.


Creio que a experiência de convívio com pessoas reais, com dificuldades reais ao menos, não se faz por completo em lugares que não se conhece nem o vizinho. Em gaiolas high-tech os novos membros desse estilo de vida crescem sem ter a noção do que se passa em sua volta e acabam definindo tudo pela estética do momento.


Quer um exemplo?


Enquanto Itaquera tem seu reggae na rua como maneira de lazer aos seus, Perdizes tem "rastas" engajados em parecerem cada vez mais roots com a verba vinda de pais descompromissados.

O gueto propõe consciência e diversão, no burgo quem sabe você não consiga arrendar um sítio e por lá viver na ilusão de garoto branco africano...



Entenderam a pegada? São dois opostos, um ilusório e outro carente de estrutura.


O meu subúrbio é mais flutuante, paira sobre o que se quer ser e se concentra mais no que se é, como se as coisas parecessem mais com o que deveriam ser .

Conhecer todos seus vizinhos, saber o nome de quem lhe vende pão pelas manhãs e principalmente: saber conjugar o verbo respeitar desde muito cedo.Pode parecer balela defensiva, mas há boa dose de poesia nisso.

Pensar, calcular, analisar, premeditar, se defender....


Todos nós fazemos isso em um ambiente estranho que não nos pertence. Imagino e entendo os anseios pessoais do burguês e do mano correria; um na ilusão do querer ser e outro no desejo de se mostrar. Agora negar o desprezo a quem se monta na vida, isso não posso fazer.

Cá no subúrbio também temos nossos anseios, mas sempre ali com uma pézinho em cima do muro. Ninguém pende para um lado completamente.


Não clamamos tanto pela pomba branca da paz e nem precisamos dos gorjeios de um passarinho azul para provar que fazemos parte da SBPA (sociedade burguesa da produção de arte).


E olha só, achamos mais um exemplo do quão raso é esse universo :


O mundo tende a capitalizar tudo que for alvo de deslumbre do ser humano, a arte como tal vem engatada nesse contexto. Nêgo paga 500 malandros pra fazer teatro por mês, mas não percebe que a intervenção proposta sempre foi a subversão social; e assim nasce uma atriz para a grande SBPA.


Em termos parecidos temos os músicos por glamour , donos de estúdios particulares e tietes descabeçadas, imitando dolorosamente o que é feito em contextos reais. Gente que diz gostar de samba, mas que não sabe o que é o samba!
E nesse compasso eles vão seguindo, no falso embalo de fingir não estar fingindo, acreditando que realmente não são enganadores de si mesmos.


"Ah Angenor, se todos eles soubessem que arte pura só com um pé na pura marginalidade."


Nós que temos vizinhos com nomes e que vemos o caminhar confiante de zumbis travestidos sabemos que tudo não passa de lorota. Quem não quer se sentir culto ou correto? Todos queremos.

Entendo isso como quem entende o desejo pelo pote de ouro daquele que não tem um vintém, mas estes podem ser conquistados de qualquer maneira.

Originalidade no pensar já é outra coisa. Necessita de desapego e falta de vaidade. Só assim para se entender que uma alma pequena é sempre uma alma pequena. Seja em Itaquera ou em Moema.

A parte nobre da cidade cada vez mais sorri amarelo.

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Saudações especiais aos rastas paitrocinados, aos descolados efusivos de 143 caracteres e principalmente aos que sabem que quem possui os brinquedos mais caros nem sempre brinca melhor!

"Nem do gueto nem do burgo, o topo do Brasil sempre foi lá no meu subúrbio"

Um comentário:

Anônimo disse...

- EEEE... salve XÉREM !!!
By Nia